sexta-feira, 2 de setembro de 2016

"Elementar, meu caro Watson."

Foto do livro tirada com o celular.

Um Estudo em Vermelho foi o primeiro livro do consagrado autor Sir Arthur Conan Doyle que li, tendo assim, a chance de conhecer de perto a primeira aventura do detetive mais popular que existe: Sherlock Holmes. Sim, este romance policial marca o feito inicial desta personagem, juntamente com seu fiel amigo Dr. Watson.

Ambos se conhecem nesta trama muito agradável, intrigante e gostosa de ler, quando Dr. Watson está procurando um companheiro para dividir os custos de um apartamento, após retornar da guerra. A partir de um amigo em comum, logo são apresentados e Watson fica intrigado com a perspicácia de Holmes, que descobre seu paradeiro anterior, sem mesmo conversarem a respeito. Tão logo quanto começam a morar juntos, ambos descobrem as manias um do outro, sendo algumas delas bastante excêntricas, porém, nada que os afaste para causar brigas. 

A narrativa se dá inteiramente a partir do ponto de vista do fiel companheiro de Sherlock Holmes, numa visão de alguém que o admira e tenta compreender como ele faz aquilo que faz de melhor: investigar. Holmes é consultado e procurado tanto por comissários da polícia, para ajudar em casos não resolvidos, como contratado para fins particulares. Com essa convivência, cada vez mais Dr. Watson se maravilha com as peculiaridades do colega, relatando seu ponto de vista a respeito dele ao longo do livro.

A narrativa começa por um assassinato que, a princípio, não há indícios de rastros, o que coloca a prova toda a teoria de raciocínio analítico e não linear de nosso protagonista. Para ele, as evidências estão sempre lá e encontra séries de provas e pistas para assim, o conduzirem ao culpado. Mais intrigante é a reviravolta dada na metade do romance policial, quando todo o quebra cabeça passa a ser montado.


Belamente escrito, e traduzido para o português, essa versão pocket é ideal para passar o tempo nesta prática de lazer tão prazerosa que é a leitura. Recomendo àqueles que ainda não conhecem Sherlock Holmes ainda e, aos que já são familiarizados, sempre vale uma releitura.

quinta-feira, 24 de março de 2016

O vinho que se recusa a virar vinagre

Foto: Acervo pessoal.

Água, whisky ou até absinto. Agora, não mais importava se era vinho tinto ou sangue, precisava beber alguma coisa. A sede de vida pulsava forte naquele momento, disfarçada em sua ânsia de autoflagelação. Degradar-se num copo de bebida era mais fácil que admitir para si mesmo todo o esforço feito para segurar as rédeas da própria vida. As mãos calejadas deixavam o couro deslizar numa dor aguda, fazendo as tiras do cabresto abrir os cortes da alma, que sangravam nas lembranças amargas de seu passado.

No rosto do homem, as rugas denunciavam a experiência de alguém que “sabe das coisas”; a barba por fazer já havia deixado de ser charme há anos. O relaxo do cansaço debruçava em suas olheiras, recebendo dos olhos uma breve lágrima de ardor após virar o martelinho de pinga. O líquido descia queimando e invadindo seu ser, anunciando à tristeza: “Cheguei para atiçá-la.”

Vontade de vida às avessas, mascarada no descaso pela sua rotina desgostosa e repetidamente medíocre. Viu um homem no canto do bar, com um chapéu marrom. Lembrou-se de seu avô no campo, sorridente e feliz, ensinando-o a laçar cavalos.

“Como pude desmoralizar o herói que deveria ter sido?”

Já não suportava mais os pensamentos redundantes e saudosistas de sua análise egoísta e incessante – o martírio agradava seus calos. Nessa hora, apertou as rédeas mais forte contra o machucado sangrento e exposto.

Viu-se turvo no reflexo do copo e, retomou a sessão: “Eu sou o herói que poderia ter sido, morrendo em meu próprio ser, no desespero de ser salvo pelo herói que quero ser.”

Bebeu mais algumas doses até sentir-se anestesiado o bastante para finalmente sair vagando pelas ruas, sem rumo, cambaleando em postes de esperança. Prometia a si mesmo que naquela noite iria procurar uma mulher – queria meter e esquecer os problemas. Mas, a amargura solitária era possessiva demais para querer dividir sua atenção com o prazer. O homem cansado de meia idade coçava sua cabeça de maneira tal, iludindo-se na crença de que este gesto organizaria suas ideias, talvez até sua vida.

Correu os olhos perturbados pela rua. Alguns garotos fumando e falando alto, alguns bares com aglomerado de pessoas do lado de fora, belas jovens desfilando com a pretensão de serem notadas, outras mulheres que ele sabia estarem ali a trabalho, e ele. Imergido em seu próprio universo, julgando-se constantemente por aquilo que nunca havia feito, pensou no chicote em suas costas. Antes deste pensamento pesar, voltou a si com o esbarrão de um grupo de bêbados. Falaram algo, mas ele não fez questão de entender.

Continuou caminhando e tombou no meio fio – malditas calçadas desniveladas – pensou. Agora sua noite estava completa, era o castigo que faltava para um arrependido com sede de vida: bêbado, solitário, culpado, vítima de si mesmo e estatelado no meio fio. Agora, já podia voltar para casa satisfeito e confuso, prometendo a si mesmo: “amanhã, vou me divertir, arrumar uma mulher, procurar uma vida da qual eu me orgulhe e ser feliz.” 

Abriu a porta de sua casa com cheiro de mofo, deitou no sofá moldado pelo seu corpo e adormeceu com o teto girando mais do que seus pensamentos. Acordou com aquele sol da manhã dando tapas em seu rosto, rastejou até o banheiro, tomou uma ducha e foi trabalhar.


As mesmas caras, o mesmos diálogos, os mesmos pensamentos na tormenta do vício de perda, os mesmos movimentos, a mesma rotina, a mesma vida. No final do expediente, sentiu sede. Água, whisky ou até absinto. Não importava mais se era vinho tinto ou sangue, precisava beber alguma coisa.

sábado, 12 de março de 2016

Considerações de uma observação com efeito previsível

Foto: Celular

Seis
Meia dúzia 
Meia hora
Meias palavras 
Meio curta
Meia história 
Meio sorriso
Meio de canto 
Um lábio
Dois olhares 
Meu sorriso 
12 dias
Uma dúzia de motivos 
Minhas prioridades
Sua malícia
A experiência 
O desejo 
O sexo
Nossos corpos 
Suor nos lábios 
Sua surpresa 
Telefone 
Paixão
Conversa e solidão
Eu disse não 
Insistência 
Descrença
Verdade na consequência
Sua vida
Minha vida
“Nós” é raiz quadrada negativa
Não pertence ao conjunto dos Reais
Eu, sou inteira, não sua metade
Quando elevamos ao quadrado, o produto é sempre positivo
Minhas equações, soluções infinitas 
Você, para mim, é resultado nulo

quinta-feira, 10 de março de 2016

O Ciclo

Fonte: http://decarlicris.blogspot.com.br/2013/04/eu-sempre-espero-uma-coisa-nova-clarice.html

Era como o vento
Sacola soprando de um lado ao outro
Rajada à esquerda
Furacão à direita
Pingando a poça em que havia se lambuzado
Ventania levando-a de muros à calçada
e do ponto de ônibus até a porta de sua casa
Plástico pairando como mosca chata
As mãos abanando para espantá-la
Papos e conversas são ecoados
Em seu vazio inflado
Com palavras sem significados
Plana de leve para o quarto
E, pesada na cama, desaba
Mais um dia que passou
Mais uma vida que tentou
A moça ainda guarda
A lembrança do ser afagado

terça-feira, 8 de março de 2016

Às vezes, os espinhos da rosa não são o suficiente

Ilustração: Lumi Mae. Fonte: http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2013/11/09/desespero-por-estar-sozinha/

Por vezes, ouvi vários homens dizendo: “Numa mulher, não se bate nem ao menos com uma flor.” Assim como, já escutei, num lamento sincero, que até as rosas têm seus espinhos. E, estas mesmas pessoas, vulgarizando todas essas flores num argumento machista que, aparentemente, justificam vários erros femininos: “Loira burra!”, como se fosse pleonasmo ou “Tinha que ser mulher...” – como se nascer com uma ‘periquita’ no meio das pernas já te deixasse mais inclinada à fazer cagada. Tinha mesmo que ser mulher? Não sei, mas neste caso, foi e continua sendo a mulher. No momento, não farei um discurso essencialmente feminista sobre esta cultura patriarcal desenvolvida, e que há muito está no imaginário da população. Lembrando que, nem sempre foi assim. Não irei instigar a guerra dos sexos, falar do nosso jeitinho brasileiro ou sobre a tal cordialidade, e como isso afeta quem somos no dia a dia. Tentei refletir sobre um lado mais sombrio e nada bonito.

Volta e meia, caminhando pelas ruas da cidade, deparo-me com placas incentivando a denúncia da violência contra a mulher. Impossível passar por um destes apelos de maneira imune, afinal, as mensagens provocam reflexões sobre o assunto. Lembro-me de situações e conversas já tidas com outras mulheres a respeito. Somos mais novas, mais velhas, casadas, solteiras, divorciadas, viúvas, mães ou não, donas de casa, trabalhando fora de casa, ou com jornadas duplas e até triplas de trabalho – que por vezes envolve, também, cuidar do lar. E, de todas essas mulheres, existem aquelas que enfrentam esta realidade pautada no medo, na ansiedade e no sufoco de suportar dores abafadas numa fachada de sorriso largo e olhos tristes.

Sim, é crime, sim. Por vezes, ignoramos este fato como se fosse algo distante de nós; quando na verdade, talvez esteja mais próximo do que a gente pensa. Afinal, a violência não é só física; e contra a mulher, é covardia de todos os jeitos, bem como, injustificável, ao meu ver. Mulher nenhuma merece ou precisa ser submetida à situações humilhantes, constrangedoras ou de risco para ser alguém melhor. Você já é melhor, do jeito que é. Acha mesmo que um ser tentando inibir o seu melhor, fazendo-na achar-se um lixo é alguém que merece tê-la ao lado?

Sei que a complexidade dos fatos vai muito além desta pergunta, afinal, as coisas não são tão simples assim. Sim, é mais fácil falar do que fazer, mas tente pensar nisso, se é que já não o faz. Amor de verdade descomplica as situações, sabe? Não faz barganha sentimental ou chantagem, pois não precisa disso. A gente dá amor porque quer, porque gosta, tem prazer em fazê-lo. Mas procure não se torturar ao pensar nisso, já basta o que fazem com você. Muito fácil alguém te chamar de burra por isso ou aquilo. Quando analisamos uma situação de fora, é ainda mais fácil de julgar, não?

Com isso, digo que minha inspiração para este texto esteve na esperança e na fé de quem passa por isso dia após dia, por anos, algumas vezes. Já pensou no desespero, nos pedidos de ajuda mascarados, nas lágrimas e no quão forte é o desejo de não haver mais violência para quem encontra-se nesta situação, neste exato momento, enquanto você tem a tranquilidade para ler o que escrevi? Isso porque, aqui faço uma reflexão superficial, visando apenas alguns aspectos deste vasto assunto, se compararmos tudo o que vem ancorado neste tema, somado à sua delicadeza em detalhes brutais, e sua complexidade histórica na construção social da mulher.

Minha inspiração para este texto foram todas as verdadeiras guerreiras que já passaram por situações assim – mesmo em “menores graus” de assédio, se é que isso pode ser mensurável em alguma escala –, àquelas que, infelizmente, ainda aguentam esse absurdo, sofrendo abusos de algum troglodita: não desista, mulher! E, claro, a todos que são contra esta posição submissa e passiva feminina.

Continue sendo forte e linda – sim, você já é assim. E, se estas palavras podem ajudar alguém, de alguma forma, é um começo. Espero mesmo que você, seja lá quem for, deixe de sofrer abusos e violência, e descubra como sua vida pode ser muito melhor longe de tudo isso. A culpa não é sua. A culpa, é de quem a coloca em situações de risco propositalmente. A culpa, é de quem te agride, independente da maneira como faça.

segunda-feira, 7 de março de 2016

O Golpe


Foto: acervo pessoal.

Butinada nas costas
A nuca me estala
O peito ecoa
Num tum de três tons
O pulso acelera
Adrenalina aumenta
Clarão em meus olhos
Alguém na espreita
Numa noite escura
A calçada molhada
Sussurros mordidos
Em línguas profanas
Anunciam a chegada
Daquele que nunca saiu
O sereno toma conta
Dos pensamentos levianos
Há quem vire a casaca
Para alcançar fácil mimo
Há quem fique firme
No cortante fio do perigo
Lealdade e companheirismo
Num náufrago de idéias
Mais fácil seria
Perfurar nuvens
Atirando pedras
Assim como
Brindamos a amizade na mesa do bar
O riso, a perdição
Enquanto que
Para o convívio
Lidamos com os defeitos 
Muitas vezes na contramão
Hábil jeito humano 
De desprezar, amar e perdoar
Natureza de pecados
Que tenta extinguir a beleza dos imaculados
Esse jeito de ser
De instigar a competição
E depois, preferir amor
Pois afinal, goste ou não
Somos todos perdão
Somos?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Girassol no Jardim


Lindo girassol. Foto tirada com o celular.

Uma flor que brota
Numa aquarela aquosa
Assim como cobrir telas
Com cimento e broca

De tantos caminhos
Passantes balbuciam
O anunciar de um dia
Cheio de espinhos

Porém a flor cresce
Suas cores chamam vida
E à sua volta
Mais amigas florescem

Até os passarinhos vêm cantar
Nos galhos tortos
Que outrora cascas grossas
Envolviam o tronco

A primavera de um ser
Talvez difícil reconhecer
A beleza de cada um
Nas nuvens escondidas

Tempestades aqui se formam
Furacão, tornado e gente torta
Nas emoções de muito amor
Cada qual lidando com sua dor

Dos beijos, lembra juventude
Das carícias, um amor perdido
De um vaso na estrada aborrecido
A flor caminha com plenitude