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Ilustração: Lumi Mae. Fonte: http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2013/11/09/desespero-por-estar-sozinha/ |
Por vezes, ouvi vários homens dizendo: “Numa
mulher, não se bate nem ao menos com uma flor.” Assim como, já escutei, num
lamento sincero, que até as rosas têm seus espinhos. E, estas mesmas pessoas,
vulgarizando todas essas flores num argumento machista que, aparentemente, justificam
vários erros femininos: “Loira burra!”, como se fosse pleonasmo ou “Tinha que
ser mulher...” – como se nascer com uma ‘periquita’ no meio das pernas já te
deixasse mais inclinada à fazer cagada. Tinha mesmo que ser mulher? Não sei,
mas neste caso, foi e continua sendo a mulher. No momento, não farei um
discurso essencialmente feminista sobre esta cultura patriarcal desenvolvida, e
que há muito está no imaginário da população. Lembrando que, nem sempre foi
assim. Não irei instigar a guerra dos sexos, falar do nosso jeitinho brasileiro
ou sobre a tal cordialidade, e como isso afeta quem somos no dia a dia. Tentei
refletir sobre um lado mais sombrio e nada bonito.
Volta e meia, caminhando pelas ruas da cidade,
deparo-me com placas incentivando a denúncia da violência contra a mulher. Impossível
passar por um destes apelos de maneira imune, afinal, as mensagens provocam
reflexões sobre o assunto. Lembro-me de situações e conversas já tidas com
outras mulheres a respeito. Somos mais novas, mais velhas, casadas, solteiras,
divorciadas, viúvas, mães ou não, donas de casa, trabalhando fora de casa, ou
com jornadas duplas e até triplas de trabalho – que por vezes envolve, também,
cuidar do lar. E, de todas essas mulheres, existem aquelas que enfrentam esta
realidade pautada no medo, na ansiedade e no sufoco de suportar dores abafadas
numa fachada de sorriso largo e olhos tristes.
Sim, é crime, sim. Por vezes, ignoramos este
fato como se fosse algo distante de nós; quando na verdade, talvez esteja mais
próximo do que a gente pensa. Afinal, a violência não é só física; e contra a
mulher, é covardia de todos os jeitos, bem como, injustificável, ao meu ver. Mulher
nenhuma merece ou precisa ser submetida à situações humilhantes,
constrangedoras ou de risco para ser alguém melhor. Você já é melhor, do jeito
que é. Acha mesmo que um ser tentando inibir o seu melhor, fazendo-na achar-se
um lixo é alguém que merece tê-la ao lado?
Sei que a complexidade dos fatos vai muito além
desta pergunta, afinal, as coisas não são tão simples assim. Sim, é mais fácil
falar do que fazer, mas tente pensar nisso, se é que já não o faz. Amor de
verdade descomplica as situações, sabe? Não faz barganha sentimental ou
chantagem, pois não precisa disso. A gente dá amor porque quer, porque gosta,
tem prazer em fazê-lo. Mas procure não se torturar ao pensar nisso, já basta o
que fazem com você. Muito fácil alguém te chamar de burra por isso ou aquilo.
Quando analisamos uma situação de fora, é ainda mais fácil de julgar, não?
Com isso, digo que minha inspiração para este
texto esteve na esperança e na fé de quem passa por isso dia após dia, por
anos, algumas vezes. Já pensou no desespero, nos pedidos de ajuda mascarados,
nas lágrimas e no quão forte é o desejo de não haver mais violência para quem
encontra-se nesta situação, neste exato momento, enquanto você tem a
tranquilidade para ler o que escrevi? Isso porque, aqui faço uma reflexão
superficial, visando apenas alguns aspectos deste vasto assunto, se compararmos
tudo o que vem ancorado neste tema, somado à sua delicadeza em detalhes brutais,
e sua complexidade histórica na construção social da mulher.
Minha inspiração para este texto foram todas as
verdadeiras guerreiras que já passaram por situações assim – mesmo em “menores
graus” de assédio, se é que isso pode ser mensurável em alguma escala –,
àquelas que, infelizmente, ainda aguentam esse absurdo, sofrendo abusos de
algum troglodita: não desista, mulher! E, claro, a todos que são contra esta
posição submissa e passiva feminina.
Continue sendo forte e linda – sim, você já é
assim. E, se estas palavras podem ajudar alguém, de alguma forma, é um começo.
Espero mesmo que você, seja lá quem for, deixe de sofrer abusos e violência, e
descubra como sua vida pode ser muito melhor longe de tudo isso. A culpa não é
sua. A culpa, é de quem a coloca em situações de risco propositalmente. A
culpa, é de quem te agride, independente da maneira como
faça.