sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Seria um conto? - Parte I

- Eu entendo - diz Sophia.

Vira as costas e sai andando a passos largos e firmes. No caminho, pensa em parar para comprar alguma coisa para beber. Sua garganta está seca. Naquele dia, o calor estava insuportável. Arruma seus cabelos, ainda existe algum vento soprando, mas ainda assim, o bafo é quente. Ela só quer chegar em casa para trocar de roupa: eu sabia que deveria ter saído com o shortes - pensa.

Entra na primeira panificadora que encontra, para e olha ao seu redor, ninguém a percebe. Anda até o balcão sujo e desgastado pelo tempo. Há um homem atrás dele que organiza alguns guardanapos, ele tem unhas compridas e uma pequena tatuagem indefinida no dedo indicador. Ela não consegue distinguir o que é, o homem movimenta as mãos rápido demais.

- O que você quer? - uma mulher a aborda por trás.

Sophia se assusta, vira-se e abre um leve sorriso. A mulher com cara de mal-humorada não faz questão de retribuir e cruza os braços após coçar o pescoço. Olha para cima dando um longo suspiro e volta a fitar Sophia.

- Quero uma água, quanto é? - diz Sophia tentando ser educada, mas sua voz saiu mais baixo do que esperava. Encolheu-se um pouco. Seu sorriso já havia desaparecido.

- Copo é 1 real, garrafa 1,50. Com ou sem gás? - diz a mulher em voz alta, andando para atrás do balcão em direção à geladeira.

- Garrafa, sem gás.

Sorte que havia uma nota de dois reais em seu bolso, não queria fazer aquele ser procurar por troco. Estendeu a mão para entregar o dinheiro e a mulher azeda o pegou fazendo bico. Como troco, devolveu duas moedas de vinte e cinco centavos. Sophia agarra a garrafa em cima do balcão e sai rapidamente.

Bebendo água - que delícia, pensou - começou a lembrar da conversa que havia acabado de ter. Nunca havia sido tão franca em toda sua vida. Sentiu-se até culpada por sair daquele jeito. E que término de discussão havia sido aquele? Não tinha, ao menos, dado o direito de resposta à outra pessoa, também, quisera. "Ousadia!" - ao mesmo tempo, Sophia aperta a garrafa de plástico que estala, fazendo-a voltar a prestar atenção em seu caminho. Mais algumas quadras e estaria em casa, alívio.

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